Carta ao coração

 Perdoa-me, coração.

   Ultimamente tenho agido de forma tão imprudente com você. Tenho te entregado a pessoas que não foram capazes de cuidar da sua saúde e, consequentemente, da minha saúde. Mas o culpado de todo esse tormento sou eu.

   Eu que, um dia, acreditei no amor e na existência da reciprocidade de atitudes ímpares, capazes de tornar nossas vidas melhores.

   Desculpe-me, coração. Eu não queria causar-lhe nenhuma ferida, foi esse meu jeito perdulário que fez com que eu perdesse totalmente o rumo das minhas emoções. Credito a mim todo esse sofrimento que lhe causei.

   Sigo minha vida tentando corrigir esses erros, coração. Tenho tentado evitar novas paixões, mas elas acabam surgindo, e tenho também tentado esquecer as antigas, mas elas acabam me perseguindo. Não sei mais o que eu faço, nem sei mais pra onde ir. Nos curtos espaços de tempo entre uma paixão e outra, eu vivo uma vida de intensa agonia e quem paga por tudo isso é você, que carrega todo esse peso sobre si e suporta as pancadas dessa vida.

   Como eu queria que tudo isso fosse diferente pra nós dois, que a nossas vidas fossem agregados somente momentos felizes, daqueles que se dá vontade de reviver a cada segundo que passa, a cada folha que cai ao chão. Já se passaram estações e nada muda – parece que a cada passo que dou em frente, retorno dois.

   Ah, coração! Quanto tempo eu desperdicei me envolvendo com paixões perdidas, iludindo-me a cada beijo dado, enfiando o pé na jaca. O que posso fazer se esse é o meu jeito? Infelizmente, o que posso fazer por você é pedir desculpas e, nesse momento, deixar a poeira baixar. Aquieta-te, bem aí no meu peito. Fique tranquilo, porque um dia a tempestade passa.

   Mas se aparecer uma paixão ardente, então se jogue – pule de cabeça mesmo. Pois é melhor viver paixões perdidas do que ficar a sofrer por paixões antigas. Porque nada melhor do que se envolver com uma nova paixão para esquecer uma antiga. E que venham novas paixões.

   Prepare-se, coração!

   Perdoa-me, coração.

Autor: Gustavo Chaves